Saciar...

Através da poesia de Miguel Torga, a Maguy-Mãe e a Arega & C.ª cruzaram-se hoje em Detroit. A minha mãe enviou-me um belíssimo poema de Miguel Torga e não resisti em reencaminhá-lo para a Arega & C.ª como resposta a uma mensagem que tinha acabado de receber. E ela respondeu-me com um excerto de outro poema de Miguel Torga. Os dois poemas ressoaram dentro de mim, saciando a minha inquietude... Partilho convosco os poemas:

Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

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"sonho mas não parece, nem quero que pareça, é por dentro que eu gosto
que aconteça a minha vida, íntima, funda, como um sentimento de que
se tem pudor..."


Miguel Torga (1907-1995)
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E... afinal o que nos faz sentir saciados?
Seja a leitura de um texto, seja a observação do que nos rodeia, seja ainda o que o olfacto e o paladar nos oferece, o objecto em apreço só se torna belo, único, excepcional se algo dentro de nós responder positivamente ao estímulo exterior, se sentir saciado nem que seja por alguns instantes.
Todos nós buscamos incessantemente respostas, mesmo para perguntas que ainda não trouxemos para o nosso consciente, e se estivermos atentos, há sempre um texto, uma paisagem, uma refeição, alguma coisa que dá sentido à nossa vida porque houve alguém/algo que nos deu uma resposta para uma inquietação interior.
Por isso, as obras universais não serão aquelas que foram concebidas de dentro para fora, i.e. sem o autor estar centrado sobre si próprio no momento da criação?

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