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Showing posts from May, 2008

Marulhar das ondas

Mais um fragmento da história da D. Bia Era uma senhora petite . Caminhava ligeira pelas ruas da cidade de Mindelo no seu passo pequeno e rápido, postura erecta e olhar decidido. As agruras da vida nunca lhe tinham tirado a capacidade de gargalhar. Por sentir o dom da vida a cada momento, os olhos de D. Bia bailavam constantemente de alegria. Esse júbilo nunca esmoreceu, nem quando descobriu, aos 24 anos, que o seu casamento era uma falácia e que tinha sido mais uma a cair na cantiga melodiosa de um marinheiro que aportava algumas vezes por ano em S. Vicente. Chorou silenciosamente mas o brilho nos olhos nunca chegou a desaparecer. E porque deveria? Tinha conseguido trazer ao mundo seis crianças saudáveis e que hoje só lhe davam alegrias! Todavia, havia uma altura do dia onde o andar se tornava pausado, tranquilo, sem pressas. Pela manhãzinha, D. Bia fazia o percurso da avenida marginal até à praia da Laginha. Iniciara esse ritual no dia seguinte à partida do último filho para o estran

George Bailey

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George Bailey, abrindo os braços para mostrar ao empregado da loja o tamanho da mala que queria comprar para depois percorrer o mundo... Desde criança, George Bailey sonhou em calcorrear o mundo, explorando novas terras e construindo grandes obras. O que ele não queria era ficar para sempre em Bedford Falls, uma cidade pacata dos Estados Unidos da América. Contudo a vida vai-lhe pregando partidas e ele vai adiando sempre o seu sonho, acabando por chegar à casa dos quarenta a fazer projectos em papel e a assumir o negócio do pai, uma espécie de cooperativa de habitação, implicando lidar com empréstimos, juros e a ficar confinado num escritório o dia inteiro. Na sua ânsia de partir e não criar laços, recusou-se a admitir que se apaixonou por Mary, a menina que virou mulher e que foi sempre apaixonada por ele. Rendeu-se ao amor, casou-se com Mary e tiveram quatro filhos, vivendo numa casa enorme e decadente que não podia ser devidamente restaurada por falta de dinheiro. Na véspera de um N

Objectos de afecto

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Esta boneca vestida com um traje típico das mulheres africanas, feita em pano, meia collant e arame, faz parte do meu mundo desde Agosto de 2003. Estávamos num passeio habitual pela Cidade Velha, na ilha de Santiago. Fiquei encantada com o colorido dos trajes, com a forma engenhosa como as bonecas tinham sido feitas. A minha tia Isabel, fluente em wolof , aproximou-se da venda dos Senegaleses e iniciou o regateio do preço. Mera espectadora de um diálogo que não conseguia entender, pude contudo pressentir o crescer de um misto de alegria e de tristeza por parte da vendedora. Escolhi a boneca e aí a tristeza da vendedora pareceu dominar a alegria por ter feito negócio. Afectuosamente, acariciou e beijou a boneca, dizendo algo em wolof . Fiquei ávida pela tradução e a minha tia disse-me que ela se tinha despedido da boneca e que lhe tinha desejado felicidades. A senhora tinha deixado o seu país, vendendo artesanato do Senegal na Cidade Velha, uma cidade que vive essencialmente dos turis

Prosperidade

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Prospect , ainda um cachorrinho "Prospect, for prosperity", foi assim que o meu irmão e a minha cunhada justificaram o nome dado ao cão que faz parte da família há quase um ano. Pertence a uma raça que me causa grandes dissabores quando tento dizê-lo: dachshund . Lá me vão educando sobre as características desta raça, sendo a sexta preferida pelos norte-americanos. Tem um porte um tanto ou quanto felino que contrasta com o seu tamanho pequeno. Olha nos olhos das pessoas e é muito atento, especialmente quando a comida está presente. Se estamos em divisões diferentes da casa, gosta de ir "controlando" onde cada um está, não vá perder um. Agora mesmo, decidiu que queria dar uma soneca. Aproximou-se de mim, saltou para o meu colo e está num sono solto enquanto escrevo estas linhas sobre ele. Nunca fui grande fã de caninos mas este conseguiu cativar-me. Como diz o meu irmão "Ele olha nos olhos das pessoas!". Não há maneira de resistir a esse olhar... Já me aban

Farol

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Farol D. Maria Pia, Santiago, Cabo Verde Para matar saudades, o meu primo Didi enviou-me hoje várias fotografias da ilha de Santiago. Apreciei esta em particular por me ter feito viajar no tempo até aos ensaios que o grupo infantil Korda Kauberdi tinha no farol, sob a batuta do Djonsa "Farol". Não sei bem porquê mas vi-me como uma das cantoras do pequeno grupo. Como não segui carreira .... não preciso entrar em detalhes sobre as minhas qualidades vocais. Igualmente, a ideia que o farol transmite: a procura de uma luz que nos conduza a bom porto e por caminhos certos. Maggs

A partida

Mais uma vez, era chegada a hora da partida. Grande azáfama e o nervosismo que aumentava porque o táxi não chegava para nos levar ao aeroporto. Depois de uma longa espera, apareceu um e o taxista justificando que era a hora do almoço, i.e. das 13h às 14h "é complicado conseguir um táxi"... Colocámos as duas malas no porta-bagagens, a minha tia e a minha mãe instaladas no banco de trás. Mal fechei a porta traseira do carro, o taxista arrancou. Fiquei especada a ver o carro partir, parando uns cinquenta metros à frente. Caminhei para o táxi e o senhor desdobrou-se em pedidos de desculpas porque não tinha percebido que eu também iria viajar. No banco de trás, a minha tia e a minha mãe numa risada alegre. E eu respondi: "Se calhar, eu é que devo ficar." Como iria viajar na SATA até Boston, a partida seria no terminal 2. Não vou tecer grandes comentários sobre o terminal... Ainda parece um estaleiro de obras em algumas partes e eu não compreendo muito bem a sua finalidad