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Showing posts from October, 2007

Valsa

Ao fundo, o som dos violinos. No salão, dançando Andrei e Natacha. Na varanda, sorrindo e sonhando Pedro Bezukov. No jardim, valsando e rindo é onde me encontrarão. - Maggs -

Dualidade

Penetrante é o teu olhar, terno se tornando, ao me veres acabrunhada. Estendes a tua mão, o meu queixo levantando, os nossos olhares se encontrando. Sorris. Sorrio. O espelho mostrando alguém que (re)conheço mas que se esconde em mim ... teimosamente. - Maggs -

Renascer

As mãos, em concha, a água fria jorrando, a face refrescada, a sede saciada. Meu amor, não sentes que já não há amarras? que navego por outros mares? Meu amor, não notas que já não estou mais por perto? que ganhei asas e sobrevôo outros céus? A sede voltará, decerto. Mas não de ti. - Maggs -

Em mudança

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Ainda em Omaha... mas com o pensamento em duas cidades que começam pela letra 'D': Detroit, onde irei trabalhar e Dearborn, onde irei viver. As duas cidades, vizinhas uma da outra, estão no estado do Michigan. De Detroit, pode-se chegar ao Canadá, atravessando uma ponte e chegando à cidade de Windsor. Em Dearborn, cidade onde está a sede mundial da empresa automóvel Ford, encontra-se uma grande comunidade de pessoas do Médio Oriente. No meu futuro local de trabalho, há árabes (libaneses, egípcio), um judeu. Também há um russo, chineses, indiano... claro... americanos. Vai ser muito enriquecedor viver e trabalhar num ambiente multi-cultural. Haverá tanto para aprender e apreender. - Maggs - _____________________________ Até finais de Novembro, este blog estará em modo intermitente. A mudança é sempre um misto de descoberta e de ansiedade.

Welcome to Detroit

Deixámos Omaha numa tarde cinzenta mas o sol brilhava quando aterrámos no aeroporto internacional de Detroit. Apanhámos um pequeno autocarro para podermos ir buscar o carro alugado. O motorista, senhor dos seus sessenta anos, olhar vivo e curioso, ajudou-nos a colocar a bagagem no autocarro e partimos. Éramos só dois passageiros - o meu chefe e eu. O motorista iniciou a conversa com a pergunta que ele devia repetir vezes sem conta no dia: "De onde vêm?" A resposta do meu chefe levou a que eles falassem sobre o futebol americano e eu calada permaneci. A conversa ía animada entre os dois discutindo futebol, falando sobre as diferenças entre Omaha e Detroit quando o meu chefe esclareceu que nós não éramos de Nebraska e que eu até era de Portugal. O motorista diz em inglês: "A única frase que sei em português é" - e diz em português - "Não sei falar português." Eu fiquei surpreendida, gargalhei e dei-lhe os parabéns. O meu chefe ficou igualmente impressionado.

Escândalo na cantina

Pedi ao meu amigo Jeffrey uma salada do dia com camarões picantes. A perspectiva de comer camarões picantes aliciara-me. Com o papel do pedido, dirigi-me à menina da caixa, fiz o pagamento, aguardando depois que me chamassem. Algum tempo depois ouvi uma voz da cozinha dizendo: "qual é o molho?" A menina da caixa olhou para mim, sorrindo e perguntou-me: "qual é o molho?" Respondi: "Não quero molho." Ela abriu um pouco os olhos, não comentou e voltou-se para a cozinha: "Ela não quer molho." Da cozinha: "Ela não quer molho?!" A menina, sempre de sorriso nos lábios mas agora com um olhar interrogativo: "Tem a certeza?" E inumerou a lista dos molhos que eu nem me preocupei em compreender os nomes ou mesmo escolher. Sorri de volta, agradeci e disse-lhe que não queria molho. O senhor que costuma entregar as refeições, abanando sempre a cabeça, olhou para mim: "Não quer mesmo molho nenhum?" E depois disse como se tivesse ti

Concha

Ainda a noite reinava, e a lua brilhava, quando bati à tua porta. Vim para te dizer que parti. Parti, não me quedando mais aqui. Aqui, onde julgas que és e nada és. Nada és, na concha perseverando. Ora o dia surge e o sol brilha, e o mundo é mais que esta concha. - Maggs -

Miragens

Estas vozes, dissonantes ecoando neste vazio. Estas mãos, desnorteadas tacteando um sentido para este vazio. Estas miragens, incontáveis apropriando-se de mim, criando este vazio. Estas miragens, infindas nada mais que sensações não vividas de ilusões. - Maggs -

O Homem e a natureza

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Leão Tolstoy, em Yasnaya Polyana No dia em que o Nobel da Paz foi para as alterações climáticas "Centenas de milhar de seres humanos tentavam por todos os meios ao seu alcance destruir a terra em que viviam amontoados. Contudo, a despeito de se encarniçarem contra o solo - quer cobrindo-o de pedras para que nada germinasse, quer arrancando as ervas e derrubando as árvores, na ânsia de apagarem o mais pequeno sinal de vegetação, quer ainda escorraçando as aves e os outros animais e saturando a atmosfera com o fumo do carvão e do petróleo -, a Primavera nem mesmo na cidade deixava de impor os seus direitos. Com efeito, o Sol brilhava ardentemente, a erva voltava a crescer - tanto onde fora arrancada, como por entre as pedras das ruas -, os jardins cobriam-se de espessos tapetes de verdura, os vidoeiros, os álamos e as cerejeiras enchiam-se de folhas tenras e fragrantes, as tílias floresciam, as gralhas, os pardais e os pombos construíam alegremente os seus ninhos e as abelhas e as

Vacina contra a gripe

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Ainda a decidir se o dia seria dedicado aos electrões ou aos fotões, oiço a voz de uma das auxiliares de acção médica a apregoar que hoje iria haver vacinação contra a gripe para as pessoas do departamento. Como a minha imaginação gosta de me pregar partidas, comecei a rir-me porque o tom da voz dela e a forma como ela ía passando pelas salas e corredores a repetir a mesma frase, lembrou-me a imagem dos meninos que vendem os jornais, gritando "EXTRA! EXTRA!" Deixei a física de parte e lá fui tomar a vacina. O local da vacinação foi no próprio departamento, na sala de reuniões. Duas enfermeiras do nosso departamento encarregaram-se disso e cadeiras foram colocadas à porta da sala, para nosso conforto, à medida que preenchíamos um questionário. Também havia rebuçados... O questionário lá me fazia a pergunta-tabu: qual era o meu número de segurança social! Recebi tantos avisos sobre a importância de eu proteger esse número de olhares alheios e de como a saúde das minhas finanças

Harmonia...

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""A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro. O homem nada pode possuir enquanto temer a morte. Só quem não teme a morte é senhor de tudo. Se a dor não existisse, o homem não conheceria os seus limites, não se conheceria a si mesmo. Nada mais difícil", pensava ele, continuando a sonhar, "que cada um saber reunir na sua própria alma o significado de todas as coisas. Reunir tudo? Não, não é essa a palavra. Não é possível unir toda as ideias, mas, sim, pô-las de acordo !", repetia, com uma espécie de entusiasmo interior, como se sentisse que essas palavras, e só elas, exprimiam perfeitamente o que ele queria dizer, resolvendo a questão que o atormentava. "Sim, é preciso pô-las de acordo, é tempo de harmonizar as coisas." in Guerra & Paz ____________ Retrato do conde Leão Tolstoy - óleo sobre tela por Mikhail Nesterov.

Partida

Não sei... pressinto que já parti. Porventura, parti há muito tempo mas não me dei conta. Hoje, o espelho mostrou-me outra pessoa. Foi aí que me dei conta que já tinha partido. Decerto, parti há muito tempo mas não me dei conta. Não posso continuar aonde não estou. Principalmente, porque tu é que nunca estiveste aqui. - Maggs -

A caminhada

Para os meus pais Para a Arega & Cª Inspirou vagarosamente. Não havia pressa. Não agora que tinha chegado aonde queria. Expirou, no mesmo ritmo, enquanto o olhar, na mesma cadência respiratória, percorria a paisagem que se desnudava perante ela. Era a natureza que se despia ou era ela que entrava na sua intimidade? Devagarinho, baixou-se e sentou-se no chão, sentindo-se inebriada com o cheiro da terra-mãe, prenhe de vida. Sorriu, ao notar o estado das solas das suas botas. Estavam gastas! Que longa caminhada tinha sido essa! Olhou para as suas mãos, tentando apreender a sua vida, o seu percurso até esse momento. Por força da imaginação, essas mãos transformaram-se nas mãos de uma menina: "Em criança, o que é que eu queria ser quando fosse grande?" "Sou o que sonhei para mim? Sei que pedi a mim própria estar sempre em transformação - nem que fosse na minha imaginação ou através dela. Não posso parar porque há ainda tanto para ver, para experimentar, para sentir...&quo

Tranquilidade

Feitas as escolhas encaixaram-se as peças. Ligeiro se tornou o caminho. Infinito se tornou o querer. As incertezas, porque as há, fortalecendo as outras certezas, que são as convicções. Feitas estas escolhas, estas aqui, não outras; hesitações não poderiam existir ao entrar por este caminho e não por outro. - Maggs -

Deixar Omaha

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Baixa de Omaha No dia 13 de Janeiro de 2007, cheguei a Omaha com duas malas e uma mochila às costas. No aeroporto, o meu chefe à minha espera com um papel com o meu nome e aqui descrevi o meu deslumbramento com a neve que na altura caía... Na semana passada, entreguei a minha carta de demissão e deixarei Omaha em finais de Novembro. Estou de partida para um outro estado, uma outra cidade, seguindo o meu chefe, procurando novos desafios. Confesso que me vou embora sem ter conhecido verdadeiramente a cidade. Não o fiz, por falta de entusiasmo, de curiosidade e de algum espírito de aventura. De Omaha, conheço três supermercados, dois centros comerciais, a baixa da cidade - o meu local preferido -, o hospital onde trabalho e o sítio onde vivo.... Também conheço o jardim botânico de Omaha, onde roubei a alma a um hibisco vermelho . Tento fazer um balanço destes praticamente dez meses que vou passar aqui e sinto que ficará a lembrança de pessoas muito afáveis. Cruzo na rua com pessoas que m

Amanhecer em NY

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vista do 31º andar do Millennium UN Hotel Oiço, frequentemente, dizer que "Deus escreve direito por linhas tortas". Também já ouvi a expressão "Quem desdenha quer comprar". Depois de um fim de semana em NY, começo a acreditar que o meu "exílio" em Omaha deve-se ao facto de um dia ter desdenhado a cidade que nunca dorme. Passei cerca de cinco horas de uma noite do mês de Abril de 2003 na Little Italy , com um grupo de colegas. Estávamos num workshop em Filadélfia e decidimos ir jantar a NY. Provavelmente, por estar saturada de metrópoles, onde muitas vezes se torna impossível ouvirmo-nos a pensar, odiei a experiência. Odiei aquele alcatrão, o cimento, as ruas sujas, a multidão. O que dizer deste fim de semana em NY? Qual pessoa que esteve desterrada num lugar inóspito, senti uma alegria imensa com aquele rebuliço e nem a agressidade da condução automóvel me irritou. Que prazer caminhar por ruas cheias de pessoas - cheias de histórias pessoais -. Ouvir exce

A dança da vida

Peguei naquele vestido. Naquele especial. Único. Rindo e brincando com as ondas, descalça, na areia molhada. Rodopiando, sem fim Flutuando, com alegria chegando ao meu âmago transportada por brancas nuvens. Onde não há hesitações, não há contradições, somente um longo maravilhamento por sentir a vida a irromper em mim. - Maggs -

Curiosidades... (III)

Estou a pensar seriamente em montar uma empresa que faça cartões de visita. Onde costumo ir almoçar, o espaço está dividido em duas partes: uma para os "pobres" que ou levam comida de casa ou vão ao bar e outra para os "ricos" que ficam à parte e que têm direito a empregado de mesa, toalha e guardanapo de pano. Mas, os "ricos" comem o mesmo que os "pobres" que frequentam o bar. A comida é a mesma, contudo em vez de serem servidos em pratos e talheres de plástico, eles podem degustar o almoço com pratos e talheres à séria. Hoje, ao almoço, observei um grupo de seis homens à porta da secção dos "ricos", à espera de serem conduzidos a uma mesa. Eles abriram as suas caixas de cartões de visita e começaram a trocar entre eles os cartões, tal como as crianças fazem quando estão a trocar cromos. Ou seja, antes de "quebrarem o gelo" com aquela conversa de circunstância, começaram logo a trocar os cartões não fosse o negócio correr mal

Ponte

Devagarinho, de mansinho, uma pedra a seguir outra e outra outra... Peço a ti, a mim, a nós não sejamos irreflectidos. Há tempo para admirar o que nos rodeia amadurecer os sentimentos apreciar a chegada do momento. Porque vai valer a pena quando nos encontrarmos a meio da ponte. - Maggs -

Curiosidades... (II)

O telemóvel é praticamente um bem de primeira necessidade aqui. E observo com espanto que o uso do telemóvel sem recurso ao modo altifalante ou algo parecido durante a condução é prática corrente. Não me parecem preocupados nem com a possibilidade de um acidente por distracção nem com a conta telefónica. Estando "mal habituada" aos padrões europeus (e penso que não seja só na Europa) onde só pago pelas chamadas que efectuo e pelas mensagens escritas que envio, não considerando o roaming , ando "nervosa" com a utilização do meu telemóvel aqui. Aqui, paga-se pela chamada que se faz, pela chamada que se recebe, pela mensagem que se envia e pela mensagem que se recebe. Por isso, só atendo as chamadas das pessoas que consigo identificar mas fico frustrada por receber mensagens de pessoas que não conheço e pagar por uma informação que não me diz respeito, tal como uma que recebi de um homem a dizer à namorada/mulher que se tinha demitido mas que o seguro de saúde para a c

Curiosidades... (I)

Ao habitual aviso de "proibido fumar" à entrada dos edifícios, pelo menos aqui em Omaha junta-se um outro... o desenho de uma arma de fogo e o símbolo de proibido por cima... Para mim, o mais caricato foi ver esse aviso de proibição de porte de arma de fogo à entrada do parque de estacionamento de uma grande empresa de produtos alimentares, na baixa da cidade. Lembrei-me logo dos filmes de cowboys onde eles eram obrigados a deixar as armas antes de entrarem no saloon . Consigo até imaginar uma pessoa a deixar a arma à porta do parque a um marshal imaginário... - Maggs -

Fome de viver

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"Anseio abarcar, incluir na minha vida curta, tudo o que é acessível ao homem. Anseio falar, ler, manejar um martelo numa grande fábrica, ser vigia no mar, arar. Quero andar pela avenida Nevsky [em S. Petersburgo], ou nos campos abertos, ou nos oceanos - onde quer que a minha imaginação se estenda." Anton Tchekov Anton Tchekov e Leão Tolstoy, em Ialta, Crimeia

Avidez

Há um pulsar insistente aflitivo, muitas vezes. Há uma voz várias vozes, na verdade em uníssono em desacordo, muitas vezes. Há uma vontade, permanente, hesitante, poucas vezes. Há tanta comoção. Há tanta contradição. Há tanta determinação. É simples: Há sofreguidão de viver! - Maggs -

As cores

Sussuram por aí que o céu é azul que o mar também é azul. Há vermelho no céu. Há verde no mar. Há uma infinidade de tons nesta vida que se desenrola, nada mais sendo do que cambiantes do nosso estado de alma. - Maggs -