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Showing posts from April, 2008

Andorinha di Bolta

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No dia 3 de Maio de 2008, Sãozinha Fonseca apresenta o seu trabalho "Andorinha di Bolta". Sou suspeita para falar sobre a minha cunhada mas tenho a certeza que será um momento único. Pode ser que consiga presenciar...

Ná, Ó Menino Ná...

Sãozinha - Andorinha di Bolta Ná, Ó Menino Ná Ó rosto doce de ojo maguado, Es bo cudado Botal pa traz! Nhor Des ta dano um bida de paz, Ó nha Pecado De ojo maguado! Ná, ó menino ná, Sombra rum fugi de li! Ná, ó menino ná, Dixa nha fijo dormi... Sono de bida, sonho de amor, Ou graça ou dor, Es é nós sorte... Se Deus, más logo, mandano morte, Quem que tem medo Ta morrê cedo. Toma nha ombro, encosta cabeça, Ja’n dabo peto, Amá ragaz! Ó esprito doce, ca bo tem pressa: Deta co geto, Dormi na paz... Eugénio Tavares (1867-1930)

Hora di Bai

Sãozinha - Sãozinha Canta Eugénio Tavares Morna de Despedida Hora de bai, Hora de dor, Ja’n q’ré Pa el ca manchê! De cada bêz Que ‘n ta lembrâ, Ma’n q’ré Ficâ ‘n morrê! Hora de bai, Hora de dor! Amor, Dixa’n chorâ! Corpo catibo, Bá bo que é escrabo! Ó alma bibo, Quem que al lebabo? Se bem é doce, Bai é maguado; Mas, se ca bado, Ca ta birado! Se no morrê Na despedida, Nhor Des na volta Ta dano bida. Dixam chorâ Destino de home: Es dor Que ca tem nome: Dor de crecheu, Dor de sodade De alguem Que’n q’ré, que qu’rem... Eugénio Tavares (1867-1930)

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa. Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe de asa... Se ao menos eu permanecesse aquém... Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído Num baixo mar enganador de espuma; E o grande sonho despertado em bruma, O grande sonho - ó dor! - quase vivido... Quase o amor, quase o triunfo e a chama, Quase o princípio e o fim - quase a expansão... Mas na minh'alma tudo se derrama... Entanto nada foi só ilusão! De tudo houve um começo... e tudo errou... - Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... - Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, Asa que se elançou mas não voou... Momentos de alma que desbaratei... Templos aonde nunca pus um altar... Rios que perdi sem os levar ao mar... Ânsias que foram mas que não fixei... Se me vagueio, encontro só indícios... Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; E mãos de heróis, sem fé, acobardadas, Puseram grades sobre os precipícios... Num ímpeto difuso de quebranto, Tudo encetei e nada possuí... Hoje, d

A minha identidade

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Quanto mais longe me encontro, mais perto me sinto...

Bistidu ku florzinhas

Maria era bunitona , como diziam os rapazes do Plateau . Fêmea negra, de pele luzidia mantida com os óleos que as primas lhe mandavam da Merka . Cabelo crespo, cortado bem rente, fazendo sobressair os olhos negros, o nariz afilado e os lábios carnudos, sempre em vermelho-carmin. Pelos caminhos que percorria, no seu bambolear lento, provocava danos. Os homens quedavam mudos, seguindo com os olhos aquela mulher cheia de vida e de promessas que nunca se cumpriam. As mulheres tentavam mostrar-se indiferentes, desejando que ela caísse finalmente em desgraça. "Essas mulheres acabam sempre da mesma maneira: grávidas de um conquistador fala-barato!". Mas Maria não queria acabar como as outras. A sua determinação crescia sempre que olhava para a figura da mãe que perdera o viço antes de chegar aos trinta e que aos cinquenta era uma mulher envelhecida, amarga, sem sonhos. Sim, ela iria arranjar um bom moço e iriam para a Merka , buscar vida melhor. Ainda na lembrança dos homens e mulhe

Expectativas

Aguarda-se por vivências sonhadas momentos idealizados alegrias partilhadas sentimentos verdadeiros respostas desejadas encontros esperados Aguardo por instantes repletos de coisa nenhuma - Maggs -

Adeus

Chegada a hora da partida Mas não o da despedida. Que logro! A ruptura em cada encontro. Palavras pensadas, mas silenciadas. Olhares esquivos, tão vivos. Sentimentos omissos, ainda que intensos. Chegada a hora da partida. Que seja outrossim o da despedida. - Maggs -

Infância

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O conto "A morte de Ivan Ilitch" foi publicado em 1886, contava Leão Tolstoy 58 anos. Ivan Ilitch, casado e com dois filhos, homem de Leis e com uma carreira irrepreensível na máquina do Estado, vê-se subitamente acometido de uma maleita que rapidamente toma conta do seu corpo, conduzindo-o à morte. Ivan, no seu monólogo interior e quase sempre acompanhado pela dor física lancilante, chega à conclusão que a sua vida tinha sido levada "... como se regularmente tivesse vindo a descer precipitadamente a encosta que julgava trepar!". "E Ivan Ilitch rememorou os minutos mais doces da sua existência. Porém, facto estranho, eles já não lhe pareciam tão felizes como dantes. Só a infância se salvava: só ela valeria a pena ser vivida se a vida regressasse. Ao mesmo tempo, Ivan Ilitch percebia que já não era o mesmo homem, que todas as suas recordações se referiam a outro, e não a ele". "Mal abordava o período que desembocara no seu estado actual, todas as alegr

Uma tarde de chuva

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Jardim Calouste Gulbenkian - 8 de Abril de 2008

Tempo para...

Debaixo do céu há momentos para tudo, e tempo certo para cada coisa: Tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar as plantas. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para ganhar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para deitar fora. Tempo para rasgar e tempo para coser. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz. Eclesiastes 3, 1-8

A minha história

Abdico de tudo Das fantasias, em particular A minha alma a apoquentar. Das frases fáceis Ditas, ouvidas e sempre fúteis. Das opções ligeiras As frustrações recalcadas. Viro a página e não abdico Daquela que serei Do mundo onde viverei. - Maggs -

Cântico negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui"! Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços) E cruzo os braços E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre a minha Mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, Por que me repetis: "vem por aqui"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho

Exílio (II)

A mala está pronta... Os discos, os livros... A gana de ir além... Na ida, solta-se amarras ganha-se asas. Na volta, O exílio que persevera A estranheza que teima. Idas e voltas... Encontros, na falta Desencontros, na presença. - Maggs -

Mário de Sá Carneiro

Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o outro. Mário de Sá Carneiro (1890-1916)

Uma tarde de sol

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Jardim Calouste Gulbenkian - 4 de Abril de 2008