Folhas

Defronte de seus olhos, o chão do parque assemelhava-se a um longo tapete feito em vários tons de amarelo pois encontrava-se coberto pelas folhas que tinham caído das árvores, tornando-as desnudas e desprotegidas para o Inverno que se aproximava inexoravelmente. Como lhe agradava o som provocado pelo pisar das botas sobre as folhas!
Ajeitou o gorro, aconchegou o cachecol ao pescoço, afundou as mãos nos bolsos do casaco e estugou o passo. Precisava atravessar o parque rapidamente para apanhar o comboio. Já estava atrasada e não havia tempo para namorar o parque e entrar num monólogo sobre o sentido da vida.
O comboio estava repleto. Desistiu de entrar nesse, como no seguinte e no seguinte também, apesar de já haver carruagens com lugares vagos. Desistiu simplesmente de apanhar o comboio até ao seu destino. Com a mesma intensidade que sentira a necessidade de estugar o passo para apanhar o comboio e não se atrasar para o seu compromisso, decidira que não valia mais a pena. "É tudo tão relativo. O que hoje é tão premente, amanhã é nada!"
Deu as costas à plataforma de embarque, saiu da estação de comboios e foi pisar as folhas caídas no parque.

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